O mais recente edifício no complexo do Hospital
Israelita Albert Einstein, na capital paulista, foi projetado pelo
estúdio Kahn do Brasil. Em relação a seus antecessores, o Pavilhão Vicky
e Joseph Safra apresenta maior variação volumétrica e diversificação no
uso de cores. Outras construções estão previstas e fazem parte do atual
plano diretor da instituição, também elaborado pelo escritório de
arquitetura.
A imagem em geral associada às edificações hospitalares no
país está mudando, e não apenas com relação aos espaços internos. Ainda
assim, apresentar um desenho mais arrojado não deixa de gerar certa
incerteza quanto à aceitação por parte do cliente. Talvez por isso o
arquiteto Arthur Brito, diretor de projetos do escritório Kahn do
Brasil, não estivesse totalmente convicto quanto à acolhida que pudesse
ter a alternativa por ele apresentada à direção do Hospital Israelita
Albert Einstein para a implantação de um novo edifício no complexo (que
considerava formalmente a mais ousada).
De fato, a volumetria do pavilhão desenhado pelo escritório é menos
contida que as três principais construções do conjunto, criadas,
sucessivamente, por Rino Levi, por Jorge Wilheim e pelo trio Jarbas
Karman, Domingos Fiorentini e Wilheim. Isso sem contar a marquise de
acesso do edifício de Levi, projetada por Siegbert Zanettini. A proposta
do escritório Kahn - implantação não linear no lote, fachadas realçadas
pelo uso de cores mais intensas e pela sobreposição de planos -
procurava dissociar o visual do novo prédio daquele comumente adotado em hospitais, explica Brito.
O Pavilhão Vicky e Joseph Safra é o primeiro edifício a ser
implantado a partir do atual plano diretor para ampliação e reforma das
instalações do Einstein no bairro do Morumbi - também desenvolvida pelo
escritório, essa proposta trabalha com um horizonte entre oito e dez
anos e prevê a construção de cinco edificações. “Especialistas
americanos em processos hospitalares do Kahn de Detroit
colaboraram com a equipe de São Paulo, não apenas para ampliar o
hospital, mas para avaliar e adaptar as melhores práticas”, informa
Brito. Para aprimorar o atendimento das especialidades médicas,
adotou-se a horizontalização das atividades, conceito que, segundo o
arquiteto, integra as equipes, minimiza o número de funcionários
assistenciais com os quais o paciente interage e reduz as chances de
erro médico.
Também chamado Centro de Medicina Ambulatorial, o pavilhão é
destinado a pacientes que necessitam de tratamentos mais simples,
apartados daqueles que demandam procedimentos complexos. Ele é conectado
ao prédio projetado por Karman, Fiorentini e Wilheim por uma passarela
de pavimento único e por um edifício-passarela de seis andares.
“Este reorganiza os padrões de circulação do hospital e leva visitas,
acompanhantes e pacientes do ambulatório a transitar junto à fachada
frontal do complexo. Isso melhora a orientação do visitante e diminui
sua ansiedade”, comenta o autor. O edifício-passarela transpõe uma rua
pública e funciona simbolicamente como portal de entrada para o conjunto
remodelado. Com novas calçadas e iluminação, a rua transformou-se,
hipoteticamente, em via interna do hospital.
Ocupando lote de cota mais baixa que a de seus antecessores, o centro ambulatorial
foi desenhado de modo a diluir seu impacto tanto no bairro como no
restante do conjunto. “O edifício não se impõe como um gigante ao
paciente, mas abraça-o na entrada e o encaminha para o átrio e para a
praça”, analisa Brito.
De forma simplificada, pode-se dizer que o pavilhão é definido por dois corpos principais que se ligam às torres cilíndricas de circulação posicionadas nas extremidades (duas) e no centro (uma) da edificação.
O acesso principal, no térreo, praticamente seciona o pavilhão em
torre e embasamento. Este, semienterrado, é ocupado por setores que
tiram proveito das áreas mais extensas, como os centros cirúrgico e de diagnósticos,
enquanto a torre possui planta mais flexível na modulação de 8 x 8
metros. Na fachada, revestimentos cerâmicos alternam-se com faixas
envidraçadas, resultando em uma interessante movimentação que, de acordo
com Brito, busca reinterpretar a dinâmica das venezianas dos
apartamentos do bloco A, desenhado por Karman, Fiorentini e Wilheim - que, por sua vez, inspira-se na edificação de Rino Levi.
Na chegada ao prédio, o desembarque se dá, segundo Brito, por um caminho cênico
sob o edifício, para criar um clima mais ameno na entrada de pacientes e
visitantes. No átrio ficam a recepção de pacientes e um café integrado à
praça e a lojas de conveniência. No coroamento do edifício há a
cobertura-jardim -“o hospital carece de locais ajardinados para
convivência”, justifica o arquiteto. Junto à entrada, a praça, com
vistas generosas para o entorno, é aberta à comunidade, ampliando a
oferta de áreas verdes. “Apesar de o hospital ter se instalado antes do
bairro residencial, o projeto oferece vários benefícios para a região,
de forma a minimizar o impacto do programa”, conclui Brito.
Texto de Adilson Melendez
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 355 Setembro de 2009
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